sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Half & Half

Por um lado, eu gostei de Half & Half e achei que é uma história interessante. Por outro lado, alguns pontos me incomodaram, especialmente a forma que Nanami Mao resolveu encerrar a história. Bem, vamos por partes.

A protagonista da história é Hina, uma estudante universitária de vinte e poucos anos que sempre teve muito azar em seus relacionamentos amorosos. Apesar de agora ter um namorado, ela sempre se lembra de seu primeiro amor, um menino chamado Itsuki, que a defendeu quando os outros a chamavam de feia e prometeu casar com ela no futuro.  Infelizmente, Itsuki e sua família se mudaram da cidade interiorana em que Hina vive para Hokkaido e os dois perderam contato. Hina visita a avó de Itsuki, que ainda mora na cidadezinha, e fica nostálgica quando pensa nele.

Um dia, enquanto faz uma visita para a avó de Itsuki, uma mulher muito bonita e aparece, anunciando ser Itsuki. Apesar da surpresa que isso causa, Itsuki explica que é transexual, ou seja, sempre se sentiu uma mulher, apesar de seu corpo ser biologicamente masculino, e diz que ela e a Hina podem ser melhores amigas agora. Inicialmente, Hina fica chocada e é até bastante rude com Itsuki, especialmente por seus sonhos e memórias de infância serem "destruídas", mas ela acaba aceitando Itsuki, se torna sua amiga e a apoia em momentos difíceis. Isso  faz com que Hina se apaixone novamente por Itsuki, independentemente de seu gênero.

  

Até aí a história estava muito bem para mim. Hina é uma personagem bastante infantil, apesar de sua idade, mas isso não é surpresa se tratando de um shoujo. Achei muito legal como Hina desde o início defendia Itsuki de comentários maldosos. Ou como ela e o irmão de Itsuki, Hayato, o apoiaram, enfrentando os pais de Itsuki, que desaprovavam de seu comportamento. Ou como ela e Itsuki ajudaram outra transexual da cidade a se aceitar mais. Tem muitos momentos legais na história. Inclusive como Hina começa a perceber que não poderá ficar junto de Itsuki, que afirmou em vários momentos não estar interessado pela Hina romanticamente. Ela até consegue outro namorado Yuuri e sai com ele justo para esquecer Itsuki. 

O que me incomodou na história? Principalmente o final. Alguns spoilers a seguir. No final da história, após Itsuki e Hina se acertarem, Itsuki aparece com o cabelo curto (ela cortou há alguns capítulos, em função de seus pais, e estava usando extensões para que ficasse comprido), sem maquiagem e vestindo uma roupa mais tipicamente masculina. Nessa cena, ela fala que irá no salão fazer algo novo, mas que não gostava do jeito que o cabelo com as extensões ficava no vento e que saias não caem bem nele. Ela também se desculpa com Hina, por não conseguir ser um homem, e Hina responde que as coisas estão bem do jeito que estão. Muitos leitores interpretam essa cena como uma contradição de tudo que a Itsuki fez até o momento. Por um lado, é estranho mesmo como, após a declaração de amor para a Hina, ela tenha sentido a necessidade de mudar sua aparência e se mostre com uma aparência menos feminina do que a que estava até o momento. Mas, por outro lado, a própria avó de Itsuki aponta para ela no capítulo anterior que as questões de identidade de gênero/sexualidade ainda são confusas para Itsuki. Se nós interpretarmos esse final como a Itsuki explorando sua sexualidade e sua expressão de gênero, ele se torna menos problemático. Talvez se esse final tivesse sido feito de uma forma diferente ou se tivéssemos acesso aos pensamentos do Itsuki nos capítulos anteriores, talvez tivesse feito mais sentido. Também quero comentar isso: alguns leitores dizem que, por ficar com a Hina, Itsuki não pode ser transexual e é, na verdade, uma travesti/crossdresser. Eu discordo. Identidade de gênero (ou seja, o fato de Itsuki se identificar como do sexo feminino) é diferente de comportamento e orientação sexual (ou seja, ser heterossexual, bissexual ou homossexual). Não há nada de errado ou de contraditório em Itsuki ser uma mulher transsexual lésbica. Sexualidade humana é complexa, oras!

  

Bem, eu já falei demais. Apesar dos seus problemas, esse foi um mangá que eu gostei de ler e de pensar sobre. A arte é muito bonita e agradável, até me lembrou um pouco a de Ao Haru Ride. Vou dar nota "8", até porque fico muito feliz em ver um mangá shoujo tão atípico.

Tradução em inglês foi feita pelo grupo Forbidden Garden.

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