quarta-feira, 3 de abril de 2013

Dame BL

A ideia por trás dessa antologia é simplesmente brilhante. Ela reúne histórias para as quais, com certeza, um editor diria "nem pensar!" ("dame") quando a mangaka quisesse publicá-las. Por isso, é uma obra, muito, muito diversa em termos de temática. Além disso, justo por ser uma antologia, várias autoras estiveram envolvidas no projeto. Algumas escreveram histórias curtas que jamais seriam aprovadas por um editor, outras apenas apresentaram meia dúzia de ilustrações e uma proposta de história. Dessa forma, eu vou abordar nessa postagem apenas as oneshots. Não vou me aprofundar falando das colunas aqui, até porque o grupo que está traduzindo a antologia ainda não traduziu todas.

A primeira história é de autoria da Kumota Haruko, que também ilustrou a capa, e acho que é a minha favorita da antologia inteira. Senpai (sério, nem o nome nem o sobrenome dele apareceram nessa história!) está lavando o rosto no banheiro da casa de um colega de trabalho, após terem bebido muito em uma festa, quando se dá conta que o lugar é estranhamente familiar e tem um par de sapatos de salto igualmente familiares em uma prateleira. Ele, então, se dá conta que esse banheiro é igual ao da casa de Uraeri, a dona de um blog para fetichistas por pernas e pés que posta fotos de suas lindas pernas. Dessa forma, Senpai descobre que seu kouhai no trabalho, Machida, é Uraeri. Assim, um descobre o segredo do outro. Senpai fica sabendo que Machida tem um corpo muito feminino e mantém um blog com fotos de suas pernas. Por sua vez, Machida descobre o grande fetiche de seu senpai. Eu adorei essa história porque ela é ridiculamente inusitada. Não existem muitos trabalhos yaoi que lidem com fetiche (salvo os que falam sobre BDSM), quanto mais um fetiche específico desses. Além disso, essa história vale a pena não só pelo tema inusitado e pelo enredo bobinho e fofo, mas também pelo eye-candy. Kumota Haruko se superou nas cenas quentes!

Achei que ia ser difícil ter mais alguma coisa tão boa quanto essa nessa antologia, mas a segunda história, de Morozumi Sumitomo, também me encantou. Se passando em tempos primitivos, o chefe de uma tribo, Ikaru, que está sofrendo por não haver alimentos disponíveis, acaba acolhendo Shigi, um homem amaldiçoado, que ele encontra na beira do riacho. O que eu mais gostei é que os dois parecem não ter nada a ver a primeira vista, mas são, na verdade, muito similares. A história é inusitada pelo cenário. Não conheço muitos mangás que se passem na pré-história além desse e de Wild Rock, então é uma mudança de ares muito bem vinda. O final dessa história foi fantástico e comovente. Simplesmente adorei. 

  

Depois dessas toneladas de fofura, vem uma história séria e sombria escrita por est em. A história fala de kick-boxing e tem a atmosfera típica das histórias dessa autora. Fala de um campeão que foi obrigado a perder uma partida e agora está determinado a ganhar a próxima luta carregada de tensão sexual. Ou algo assim. Eu curto as histórias da est em, mas essa me deixou confuso. Depois de algumas colunas e ilustrações, vem a história de Umematsu Machie que é ridiculamente deprimente. Boa para caramba, mas deu aquele aperto no coração. Não foi a primeira história falando de velhinhos que são um casal há muitos anos, mas essa foi muito triste e poética. Após derramar algumas lágrimas, chega a história Locas! de Okayada Tetuzoh, que mostra um cenário com um bar gay e drag queens! A história é bem boba, mas muito engraçada: dois caras que se conhecem por correspondência resolvem se encontrar, mas no fim um deles acaba ficando com a pessoa errada.

A história da Chiba Ryouko me deixou decepcionado. A arte dela é linda, como sempre, mas a história sobre robôs foi bem, bem esquisita. Em suma, um cara briga com seu namorado e aluga um robô que é basicamente igual ao namorado. Os mangás dessa autora costumam ser bem clichê, então é legal vê-la tentando fazer algo inusitado, mesmo que não tenha dado muuuito certo. Depois de uma coluna um tanto bizarra (sobre o amor de um coveiro? e um cadáver), vem uma história igualmente bizarra, mas menos perturbadora. Escrita por Uno Jinia (de quem eu nunca ouvi falar), temos a história do amor de um cara por um ventilador. É. Nem sei o que comentar. Foi surpreendente. 

  

A próxima história, de Zin, é sobre um prisioneiro num campo de concentração e um nazista sádico. Não é o tipo de cenário que me atrai, então eu meio que passei por essa história correndo. Depois disso, tem algumas colunas que eu adoraria ver se transformando em oneshots ou mangás de verdade. Sobretudo a proposta de história da Psyche Delico, que é sobre o amor de um homem e de um homem transgênero (um homem que nasceu mulher e passou por uma transição para adequar seu corpo à sua identidade de gênero). Aí vem a história da Mochimeko, com uns yakuza esquisitos e um cara, herdeiro de um grupo rival, sendo sequestrado. 

A antologia se aproxima do fim, com a história de Rutta Ikumi, que fala sobre dois otakus apaixonados. Ok, na verdade, um deles tem um fetiche por coisas gorduchinhas e, consequentemente, está interessado em um amigo seu, que é bem rechonchudo. Eu não conhecia essa autora, mas a arte dela é tão bonita e a história foi tão adorável, que estarei atento para os próximos lançamentos dela. O final desse capítulo é hilário! A última história, então, é sobre ciclistas. Momoyama Naoko fala sobre dois ciclistas profissionais, as competições e tal. Eu achei essa história meio chata e o aspecto BL dela ficou em segundo plano, já que a autora focou nas nuances de ser um ciclista.

  

Dame BL deveria ser lido por qualquer pessoa que diga estar de saco cheio do gênero yaoi ou que yaoi é tudo igual. Todas essas histórias tem um quê de revolucionárias e trazem uma nova proposta. Por favor, editores, parem de recusá-las! Nota "9" pelo conjunto da obra, porque é uma antologia fantástica. Como o hazukashiikedo escreveu, a maior parte dessas histórias não "esquisita demais para publicação", apenas não tem os pontos "moe" que em geral as mangás yaoi têm. Essas histórias, por isso, fogem do padrão comum encontrado nos mangás yaoi.

O maravilhoso grupo acme está quase terminando de traduzir essa antologia para o inglês. Eles traduziram todas as oneshots e estão quase terminando as colunas.

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