sexta-feira, 21 de março de 2014

Starfighter

É engraçado falar sobre essa comic, porque eu ouvi falar dela pela primeira vez em um lugar chamado Wiki de Web Comics Ruins (tradução livre minha). Starfighter é uma história slash (versão ocidental do yaoi) de ficção científica, com uma arte bastante única. Seu autor usa o pseudônimo HamletMachine.

Em Starfighter, a humanidade está enfrentando uma guerra espacial, com naves espaciais, lasers e toda essa coisa de ficção científica. Assim, o exército se divide em dois grupos: os navigators e os fighters. O primeiro grupo são navegadores e pilotam a nave, considerados mais inteligente e um tipo de elite dentre os soldados. Já o segundo grupo fica responsável por utilizar a armas da espaçonave e desintegrar os adversários. Cada espaçonave tem dois responsáveis, um de cada grupo. Nossa história começa com um navegador e um fighter sendo colocados juntos em uma missão, recebendo os nomes "Cain" e "Abel" para tal.

Cada dupla divide um dormitório e passam muito tempo juntos. Cain é automaticamente agressivo e possessivo para com Abel, fazendo uma cicatriz (invejo o poder dos dentes dele!) em Abel para mostrar que ele, agora, é seu. Os dois vão na tal missão juntos e Cain já começa a falar aquelas frases clássicas: "não me atrapalhe" e "vou te deixar para trás se começar a me atrasar". Eu gostaria de saber como, exatamente, ele pretende deixar o Abel para trás, já que os dois vão dividir o mesmo veículo e, mais, o Abel é quem pilota... Mas ok. Missão concluída com sucesso, o Abel se prepara para sair da nave e dá de cara com Cain se masturbando... Porque, aparentemente, destruir naves e matar inimigos é altamente excitante. Tá, ok. De volta ao dormitório, Cain confronta Abel, porque ele resolveu ajudar um fulano lá durante a missão e o Cain disse que não havia permitido isso e tal. Abel responde que não vai receber ordens do Cain, o chama de monstro... E os dois acabam transando, após Cain declarar: "Oh, Abel... Eu vou foder você". 

Esse tipo de cenário é o que o Tv Tropes chama de "Tango do Masoquismo" e eu não acho que exista um termo melhor para definir essa relação de amor e ódio, de abuso e violência, que parece fornecer ganhos secundários para ambos os envolvidos. Eu tive alguma esperança de que Abel ia ser um personagem legal, forte e com uma personalidade interessante quando ele enfrentou o Cain... Mas essa determinação durou dois segundos e ele já foi para a cama com um cara emocionalmente instável, violento e que trata ele mal... Super-fez sentido! Volto ao meu argumento de que detesto personagens abusivos e o Cain é um perfeito exemplo disso. Ele estupra o Abel, outras pessoas riem do Abel por estar com o Cain e aí por diante. E o pior? O Abel se culpa (e é culpado pelos outros) pelo estupro, além da linguagem misógina estar presente constantemente. E sabe o que é pior? A mensagem de que "está tudo bem com o Abel ter sido estuprado, porque na verdade ele queria transar com outro homem há muito tempo" e "Cain pode ser um abusador, mas olha como ele é sexy e lindo". Esse é o tipo de coisa que contribui para a "cultura do estupro" e dessensibiliza as pessoas em relação aos efeitos traumáticos de tal violência (NOTA: eu não estou dizendo que quem lê Starfighter ou coisa similar se torna estuprador. Estou dizendo que o estupro ser tratado como algo leviano dessensibiliza os leitores e banaliza uma situação de violência). Aos poucos, entretanto, a autora começou a retratá-lo de uma forma mais... Simpática? Especialmente no capítulo 3 (a partir da página 84, para ser bem exato). O fandom de Starfighter pirou com o capítulo 3 e parece que o Cain acabou se redimindo por tudo (na real, o fandom nunca culpou ele por nada). O único personagem que falou algo que fez sentido nessa história foi o Praxis: "Abel talvez queira um fighter que não é um psicopata controlador?" e "você pode ser o melhor fighter da estação, Cain... mas ainda assim é um merda"... Para em seguida fazer um comentário preconceituosos sobre ciganos. Logo quando eu acho que vai melhorar...

  

Ufa. Post grande de novo. Não quero ser um hater. Acho que tudo bem gostar de Starfighter (ou de qualquer outra coisa), mas não dá pra esquecer dos problemas que há nisso. Eu gosto dessa web comic e a acompanho há bastante tempo, só que eu tenho que reconhecer que há muitas situações problemáticas e o que eu gosto não é necessariamente perfeito. Não estou aqui sacudindo bandeira para que as pessoas deixem de gostar de alguma coisa, mas sim para que elas parem e pensem sobre as mensagens que aquilo está transmitindo. Aliás, quem estiver procurando uma leitura puramente erótica vai curtir. Das quase 50 páginas do primeiro capítulo, umas 15 têm sexo. E é bastante explícito. Vou dar uma nota "4" com muito pesar, porque eu realmente gosto da arte. O efeito preto e branco com alguns detalhes coloridos (tipo Sin City) funciona muito bem. Se eu quiser ser muito chato (e eu quero), vou dizer que não gosto muito do layout das páginas e da disposição dos quadrinhos, mas prefiro recomendar essa resenha aqui para aspectos mais técnicos da arte. Preciso dizer, aquela cena de guerra do capítulo 3... Uau! Muito, muito boa!

A web comic pode ser lida em seu website em inglês.

Nenhum comentário:

Postar um comentário