sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Complex

Eu não ando lendo muitas coisas ultimamente (traduzir e editar tem tomado muito do meu tempo...), mas vi que alguém upou Complex num site e resolvi reler. Eu tenho um carinho muito grande por esse mangá, porque foi um dos primeiros mangás yaoi que eu li. É uma montanha russa emocional pra mim. Eu rio, eu choro, eu reviro os olhos, eu fico com raiva... Gente, quatro volumes que têm muito a contar!

Primeiramente, o sumário básico de Complex em sites como o Baka Updates não faz justiça à história. A maior parte desses sumários se refere somente ao primeiro capítulo e passa uma idéia muito errada do que o leitor deve esperar ao ler esse mangá. Complex é uma série que, apesar de não ser muito longa, acompanha seus personagens ao longo de suas vidas, começando em sua infância até suas vidas adultas, sendo o último capítulo com os personagens já na velhice. É uma história complexa. Sobre amor, sobre homossexualidade, sobre gênero, sobre aceitação, sobre amizade, sobre família... Uma diversidade de temas são abordados nessa história. 

O sumário pouco explicativo básico dessa história é esse aqui, que eu vou complementar depois: Tatsuya e Junichi são alunos da quinta série que são amigos desde que eles conseguem se lembrar. Tatsuya é um menino alegre e atlético, sendo muito querido pelos colegas. Junichi o admira e gostaria de ser como ele, bem como o tem como um amigo muito querido. Entretanto, na escola que eles estudam, há um professor pedófilo que está interessado em Tatsuya. Ele, com a ajuda de uma outra aluna da escola, Yumi, sequestra Junichi para atrair Tatsuya e poder molestar os meninos. Sim, eu sei o que vocês estão pensando. Esse capítulo realmente assusta, mas felizmente os dois conseguem se livrar do professor. Eles ficam traumatizados pelo incidente, o que é abordado a seguir.

  


Nos próximos capítulos, a história melhora MUITO de nível. Agora, os dois estão no ginasial, no início da puberdade, e sofrendo todas as confusões que essa fase da vida causa. Junichi se sente deixado para trás por Tatsuya, que está crescendo mais rápido que ele e mudando de voz. Em contrapartida, Tatsuya não quer crescer, porque ele considera que são os adultos os que fazem coisas cruéis como o que o professor fez com ele quando criança. Por ter também muita raiva de Yumi, a menina que manipulou os dois no primário, ele fica com raiva de mulheres de uma forma geral e cada vez mais se vê obrigado a confrontar seus sentimentos por Junichi.

Essa parte da história de quando os personagens são adolescentes é muito legal de ler, em função dos conflitos, temores e sentimentos típicos dessa fase da vida. Apesar de coisas trágicas acontecerem, como o acidente que impede que Tatsuya volte a jogar futebol, a amizade e o amor que um tem pelo outro faz com que eles consigam passar por esses momentos. Já quando os dois estão na faculdade, eu diria que eles estão em lua de mel... Porque é a fase mais alegre e divertida do mangá. Os dois estão curtindo as amizades, as aulas e o tempo um com o outro, apesar de as decisões para o futuro estarem pairando a vida deles, conforme eles se aproximam de se tornarem, de fato, adultos - como eles ansiaram a história toda.

Quando eu era uma fujoshi besta de 14 anos e li esse mangá pela primeira vez, eu desgostei muito do rumo que a história tomou. Mas hoje, quase dez anos depois, relendo a história, eu gostei muito do que a autora fez aqui. Foi um grande sofrimento para os personagens? Foi. O romance deles foi interrompido e passou por grandes dificuldades? Sim. Os dois personagens precisaram tomar rumos diferentes e não necessariamente tomaram as decisões certas nesse ponto da história... Mas quem toma decisões 100% corretas o tempo todo? Esse mangá é tão real para mim. As burrices que as pessoas cometem, as coisas que precisam fazer mesmo que não queiram, como destroem as próprias vidas para depois reconstruí-las... Não quero dar spoilers, mais do que já dei, mas essa parte do mangá, para mim, foi a mais difícil de ler - porque é amarga, triste, complicada, sem um resultado em que todo mundo possa ser totalmente feliz -, mas também a que soa muito real. Conforme a história evolui, entretanto, vai se tornando progressivamente mais agradável e doce (os capítulos do ponto de vista do Kenta, uma criança e um dos protagonistas da história em seus dois últimos volumes, são muito legais).

  

Eu diria que esse mangá é uma tentativa de mostrar um amor de uma forma real, enfrentando diversas dificuldades plausíveis e possíveis de acontecer. Essa história não tem heróis nem vilões, somente personagens cheios de qualidades e defeitos. Eu gosto muito de como os personagens mudam, crescem e amadurecem conforme a história progride. A história tem seus momentos tristes, felizes, românticos... E é muito bem balanceado. Se eu tivesse que apontar algo negativo para dizer, eu diria que a arte é algo que incomoda. Como é um mangá de 1996, a arte é antiquada. Eu acho que a história é tão boa que a arte, apesar de seus problemas e inconsistências, se torna tolerável. Vou dar nota "9", porque esse mangá é, com certeza, uma leitura interessante, no mínimo. O final do mangá é lindo (e daí se é clichê? Chorei litros e amei) e o último capítulo é como se fosse um álbum de fotos, mostrando vários momentos da vida de todos os personagens. Os comentários da autora sobre as decisões que ela tomou enquanto escrevia a história também são legais de ler e vários deles explicam e justificam várias reclamações dos fãs.

A tradução em inglês foi feita há milênios pelo Obsession. 

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