Vou dizer logo de cara: eu gostei de Kanojo ni Naru Hi. Eu tenho reclamações (pra variar) e pode ser que acabe sendo meio crítico demais aqui, mas gostei bastante, de um modo geral, do mangá. A arte da Ogura Akane me lembrou a de Horimiya, por causa do estilo clean e delicado, o que me fez ter interesse por ler o mangá.
Antes de entrar na história per se, vamos começar pela ambientação: nessa história, a sociedade precisa manter sempre uma relação igual de mulheres e homens. Quando o número de mulheres fica reduzido, alguns homens mudam de forma e se tornam mulheres para equilibrar novamente a sociedade. O processo é conhecido por "emergence" e, em geral, ocorre em crianças, mas, ocasionalmente, pode acontecer em adolescentes. O processo possui um alto índice de mortalidade, devido às drásticas mudanças físicas que os indivíduos sofrem. Apesar dessa troca de sexo natural ser conhecida na sociedade e razoavelmente frequente (chegando até a cem casos por ano), ela não é aceita totalmente pelas pessoas, sendo que há alguns que acham que é uma coisa "nojenta".
Nisso, nossa história começa: Miyoshi sempre gostou de competir com seu amigo de infância, Mamiya. Os dois sempre estiveram juntos desde a pré-escola e têm uma excelente relação de rivalidade amigável, digamos assim. Um dia, Mamiya desmaia na escola e é hospitalizado. Depois de semanas, Miyoshi vai visitá-lo já em casa e descobre que Mamiya passou pela emergence e se tornou uma garota. Mamiya, aparentemente, aceita bem a situação e já está disposto em viver sua vida como mulher a partir de então, enquanto Miyoshi, que tem muita dificuldade em lidar com mulheres, sente-se incomodado pela situação. Aos poucos, entretanto, ele percebe que o processo não está sendo fácil para Mamiya e resolve seguir como sempre foi, sendo um pilar de suporte para seu amigo. O problema é que sentimentos novos começam a surgir e ele, que nunca teve sentimentos românticos por ninguém antes, começa a se sentir confuso.
Eu achei fascinante a concepção da autora, mas algo que me incomodou no início foi o quão rápido e bem o Mamiya aceitou a situação. Com o passar da história, ficamos sabendo que, na verdade, ele está insatisfeito também e que todas essas mudanças têm sido difíceis para ele, mas que agir de forma positiva e, aparentemente, impassível é apenas um traço da personalidade dele. Em seguida, a forma como os sentimentos de Miyoshi e de Mamiya passam de amizade para amor romântico em função da troca de sexo não me incomodou, pois foi um processo gradual. Os próprios personagens questionam se os sentimentos são mesmo legítimos por terem surgido a partir da mudança de sexo ou se esses sentimentos permaneceriam se Mamiya voltasse a ser homem, como pode vir a acontecer no final do mangá. Ao contrário de, por exemplo, Boku no Kanojo no XXX que eu odiei como os sentimentos mudam de amizade para amor (ou desejo sexual) instantaneamente, acredito que em Kanojo ni Naru Hi a situação foi bem construída. Por fim, acho que é interessante apontar que, apesar das mudanças físicas, o Mamiya não muda em questões psicológicas, digamos assim, ele segue agindo como sempre foi. E o relacionamento que ele tem com o Miyoshi é muito interessante. Minha maior e principal crítica foi em relação ao final da história. Então, spoilers: Mamiya pode acabar voltando a ser homem em função das complicações do emergence e, em função disso, ele recusa tratamento médico. Ok, Miyoshi dá apoio para ele e afirma que, independente do que acontecer, os sentimentos dele não mudarão, mesmo que Mamiya volte a ser um homem. Aí Mamiya entra numa espécie de "casulo" (que é a forma que o corpo se reorganiza em masculino ou feminino) e fica ali por cinco anos, para poder se retransformar em mulher. Cara, esse é um processo complicado, com altas chances de morrer! O Miyoshi já disse que vai amá-lo independente de qualquer coisa, então pra que isso?Sinto que essa cena final acabou colocando por terra as declarações de amor e aceitação dos últimos momentos do mangá.
Acho que até que eu não fui tão crítico quanto eu temia que pudesse ser. Alguns apontamentos finais: essa história tem uma sequel, com personagens diferentes, se passando nesse mesmo cenário, que também é muito interessante e explica mais sobre a sociedade e sobre a emergence. Vou comentá-la eventualmente aqui. A arte é bonita e agradável, com um estilo simples, que eu gosto bastante. Como eu disse, me fez lembrar de Horimiya. A história podia acabar sendo muito parecida com outras que tem por aí (tipo Kakumei no Hi), mas o cenário desenvolvido pela autora deixou tudo muito mais interessante. Vou atribuir uma nota "8" para esse mangá.
A tradução em inglês é do Crimson Flower e eu lembro de ter visto que a tradução em português é do Dimichan Scanlations.
Oi Faust!
ResponderExcluirA temática Gender Bender sempre foi uma das minhas favoritas - seja em livros, mangás e filmes. Então, adorei esta história! Vou acompanhar a sequel tb!
Se tiver mais sugestões... :)
Tem alguns filmes que gosto relacionados a este tema. De cabeça lembro: M. Butterfly (1993) - David Cronenberg, Papisa Joana (2009), Ela é o cara (2006), Quase Igual aos Outros (1985). Acho que vou até dar uma olhadinha no netflix e rever algum deles... ^^
Oi Naelyan!
ExcluirOba! Que bom que você curte gender bender! É um dos meus temas favoritos também!
Tenho milhares de sugestões! hahaha Só me dizer de que tipo você gosta. Troca de sexo mágica? Um menino e uma menina trocam de corpo? Intersexualidade? Transsexualidade? Cross-dressing? Eu dou um jeito de sugerir! O que está na ponta da minha língua agora é um shoujo super-engraçado: Usotsuki Lily, em que uma menina recebe uma declaração de amor de um menino muito bonito. O que ela só descobre depois é que ele é famoso por se vestir como mulher na escola. :D
Eu não assisti "Quase Igual aos Outros" ainda, mas já deixei sua sugestão aqui anotada. Papisa Joana é muito interessante, e Ela é o Cara é muito divertido. M. Butterfly é um clássico. Minha mãe adorava esse filme, então a gente assistiu uma porção de vezes. ^_^
Hmm, dificil escolher. Eu sou da opinião que sendo uma história pode ser de qualquer tipo! :)
ExcluirMas para facilitar sua vida, vamos de Cross-dressing e Transsexualidade, Vou dar um exemplo de um que gostei bastante: Henshin Dekinai - http://mangafox.me/manga/henshin_dekinai/
Por outro lado, gostei também de Ouran High School Host Club. :)
Então, Yaoi ou Shoujo... ^^
Usotsuki Lily já marquei aqui para ler!
Obrigada!
Desculpa a demora!
ExcluirEu não li esse primeiro mangá (não curto a autora), mas li Ouran. :) Vou dar algumas sugestões!
Sobre personagens transgênero ou transexuais:
- Hourou Musuko (Shimura Takako) - Obrigatório!
- Ai no Shintairiku (Yamada Nari) - Bobinho, mas é uma boa tentativa.
- Kakumei no Hi (Tsuda Mikiyo) - Idem acima.
- Nobara (Kumota Haruko) - Mimi trabalha em um bar gay e deseja fazer cirurgia para se tornar uma mulher, mas aí ela se apaixona por um cara que é um homem gay e, por isso, não quer ficar com ela (já que ela é uma mulher).
- Mascara Blues (Sakisaka Io) - Uma das oneshots. É bem legal!
- Half & Half (Nanami Mao) - A protagonista reencontra o menino que era seu primeiro amor... Para descobrir que ele agora é uma mulher.
- Mermaid Line (Kindaichi Renjuurou) - Uma das histórias. O casal está para se casar, mas aí o rapaz disse que sempre quis ser uma mulher.
Eu não li Claudine, mas todo mundo cita esse mangá quando falam em transexualidade, então fica a dica. :)
Sobre personagens que fazem crossdressing... Muitos mangás têm pelo menos uma cena em que os personagens fazem crossdressing (os infames festivais escolares, por exemplo). Eu vou citar só alguns e que eu considero que o crossdressing é algo importante para a história:
- Syrup! - Bitter - Uma antologia yaoi sobre crossdressing. Muitas histórias são ótimas.
- Shounen Oujo - Comentei aqui no blog. É um mangá com uma trama interessantíssima.
- Kuragehime
- Motto Aishiaimasho, Love Masshigura ou algum dos mangás relacionados. Lembro que um dos três irmãos fazia crossdressing.
- Udagawachou de Mattete yo - Um dos meus favoritos!!! É ótimo!!!
- Hana no Kishi - A autora se atrapalhou e a história ficou meio meh (como já é de praxe pra ela), mas é um mangá interessante.
- Bokura no Hentai
- Coda
- Fudanshism
- Hanamai Koeda de Aimashou
- Himegoto - Juukyuusai no Seifuku
- Mint na Bokura
- Kimi no Neiro
- Nicoichi - Adoro esse!
- Renai Idenshi XX - Um mundo em que só existem mulheres biológicas...
- Scarlet Palace - Um manhua meio chato, mas muita gente curte. É histórico e tem uma arte bonita.
Não tenho muita certeza/casos borderline:
- Mede Shireru Yoru no Junjou - Na verdade, é sobre prostitutos (Taikomochi? Acho que é o termo), mas de certa forma até pode se aplicar...
- Kunisaki Izumo no Jijou - Sobre teatro kabuki. Não curto esse mangá.
- Half Prince - Não é bem fazer crossdressing. Mais tipo uma menina que tem um alter ego masculino.
- Wagamama na Jewel - Não lembro direito.
- Oyajina - Mangá cômico em que meninas se transformam em homens de meia idade.
- Pretty Face - shounen ecchi cômico em que um delinquente acaba com o rosto de uma linda garota e acaba tendo de morar com a família dela.
- Yuureitou - Não li, mas ouvi dizer que é muito bom.
Um abraço,
Faust
Nossa! Quantas sugestões. Muito obrigada!! Vou dar uma procurada pela net e ver o que consigo encontrar.
ExcluirEstou lendo Boku ni Natta watashi. Por enquanto está divertido. Não sei se vc conhece...
Quanto a autora de Henshin dekinai sei exatamente porque vc não curte ela. Mas pense em tudo que vc odeia em Okane ga Nai... Então, nada disso tem em Henshin Dekinai... Nada de estupros, abusos, humilhações... Nem parece um mangá dela. Ela devia estar passando por um momento super inspirado quando escreveu esta história.
Bjs
Hahaha! Eu me empolgo! ^_^ Se precisar de ajuda para achar algo, me avisa!
ExcluirEu não conheço esse mangá, não! Vou dar uma olhada. :) Parece ser bom! E quanto a Henshin... É bem isso mesmo: eu odeio Okane ga Nai com todas minhas forças, por isso eu sempre fui resistente a olhar Henshin. Já que você está dizendo que não é parecido com OGN, vou dar uma olhada! :)
Um abraço,
Faust