domingo, 31 de agosto de 2014

Usotsuki wa Shinshi no Hajimari

Eu adquiri a edição americana de Usotsuki wa Shinshi no Hajimari há algum tempo e estava esperando chegar para comentar o mangá. Infelizmente, o correio não quis colaborar comigo e nem sinal do meu mangá! Bem, já que eu fui obrigado a piratear esse mangá da Matsuo Marta, vamos agora falar de um mangá que eu quero muito ver no Brasil, mas duvido que seja publicado aqui algum dia.

Basicamente, a história é sobre o estudante de medicina Jonathan Klein que rouba psicotrópicos do hospital universitário e os vende para outros estudantes. Ele é descoberto por seu professor, Paul Thomas Haskins, que concorda em ficar quieto em troca de favores sexuais. Parece típico, né? Mas, então, depois de uma noite juntos, Paul encontra um bilhete lhe desejando boas vindas ao mundo do HIV positivo! Apesar de ser uma mentira de Jonathan, só para dar um susto no professor, colocá-lo em seu lugar e mostrar que não se rende facilmente. 

Uma coisa que me irrita em alguns mangás é que mesmo quando o (a) autor (a) decide escrever um mangá se passando em outro país, os cenários seguem tendo estruturas tipicamente japonesas. Os personagens seguem fazendo reverências para se desculpar, comem arroz no café da manhã, tiram os sapatos para entrar em casa e celebram o Ano Novo indo a um templo. Em outras palavras, o cenário acaba não fazendo diferença, porque os personagens continuam sendo e agindo como se pertencessem à cultura japonesa. Claro, nem todos os autores são descuidados assim. Temos ótimos mangás shounen (Vinland Saga e Historie são os primeiros que me vêm à mente) que retratam bem a realidade que o autor resolveu retratar. Infelizmente, muitas autoras do yaoi investem no moe e na sensualidade, esquecendo de fazer algo realmente bom. O cenário, muitas vezes, é só uma desculpa para mais moe e a história e personagens não podiam ser mais genéricos. Felizmente, Usotsuki wa Shinshi no Hajimari é um excelente mangá e escrito por uma autora que fez o dever de casa.

  

A autora usa termos como WASP (aquele acrônimo que significa branco, anglo-saxão e protestante, ou seja, alguém da alta classe norte-americana), fala de drogas reais que realmente são utilizadas inadequadamente por estudantes (retratando um problema legítimo), aborda a temática da AIDS, também sobre a dificuldade em se assumir homossexual em uma sociedade preconceituosa, ilustra mapas explicando a localização dos personagens, comenta sobre bandas (inclusive em uma cena o Paul canta um trecho de uma música da Lady Gaga! Hilário!)... Gente, ela sabe sobre o cenário que está retratando. O mangá se passa na Nova Inglaterra e você realmente tem a sensação de estar lendo uma história se passando nesse estado. Esse mangá dá uma sensação extremamente realista, com personagens muito humanos. 

Nenhum dos dois é perfeito. Paul é casado, tem uma filha, e decidiu que levará para o túmulo o segredo de ser gay. Sua grande razão para tal é que seu irmão mais velho, David, foi expulso de casa quando saiu do armário quando Paul era adolescente. Para ele, isso não é uma opção. Vamos conhecendo mais sobre o passado e a vida pessoal de Paul ao longo da história, sendo que seus envolvimentos amorosos fracassados, sendo um com um colega de escola e outro com um colega de profissão (essa história sobre ele e Daniel foi de partir o coração), também ajudam a deixar esse personagem mais humano. Tanto a esposa quanto a filha de Paul são uns amores. Muitos mangás yaoi retratam as personagens femininas como bruxas maquiavélicas que impedem os dois menininhos de ficarem juntos. Esse não. Temos pena de Judy por ser traída, assim como temos pena de Paul por sofrer escondendo algo tão importante sobre si, e também temos pena de Jonathan, que reluta em se envolver amorosamente com Paul, por saber que não pode esperar muito dele. Jonathan é um personagem interessante também: teimoso, desonesto e cada vez se pegando mais apaixonado por Paul, algo que ele sabe que será em vão.

O motivo que eu gostaria de ver esse mangá no Brasil é simples: esse é um mangá adulto. Temos personagens adultos, complexos e multidimensionais; uma história interessante que aborda temáticas atuais e problemas muito reais e presentes na vida de muitas pessoas. Eu acho que Seven Days teria um apelo amplo, por ser um mangá bonitinho, singelo e muito bem escrito. Por outro lado, acho que Usotsuki wa Shinshi no Hajimari seria legal de ver lançado em terras nacionais por não haver outro mangá como esse disponível.


Na verdade, só por ter dado o nome de Levi Strauss para um restaurante, essa autora já me ganhou. E ela também me ganhou com os personagens bem escritos e com a história interessante. Espero que ela planeje não só continuar publicando, mas também lance capítulos mais frequentemente! Eu quero mais! A arte, eu diria, é uma questão de se acostumar... Eu acho bonita e muito expressiva. Vou dar nota "10", com estrelinhas.

A tradução em inglês foi feita pelo Moon In A Box para o primeiro volume. Depois, o mangá foi licenciado e publicado em inglês pela Juné, com o título Lies are a gentleman's manners

2 comentários:

  1. Oi Faust!

    Lies are a Gentleman's Manners é bem diferente do comum. Eu li e gostei, e concordo que merece cada uma destas estrelinhas. Me diverti muito com o Paul apesar dele ter entrado na lista dos personagens canalhas irresistíveis.
    O relacionamento entre Paul e Jonathan, é quase como um jogo de gato e rato e te conquista ao longo da história.

    Em relação ao traços tb achei bem atraente. Os personagens são bem expressivos em cada uma das páginas. (Adoro aqueles sorrisinhos que o Paul dá.)

    Beijos

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    1. Oi, Naelyan!

      Que bom que você também curtiu! hahaha E obrigado por pensar em um sinônimo que descreve bem o Paul: canalha. Eu só conseguia pensar em "filho da p*ta" enquanto lia a história. Ele é um sacana que não sabemos o que está pensando direito, apesar de a história cada vez mais nos dar informações que nos ajudam a entendê-lo. :)
      Gato e rato, entre tapas e beijos, a ferro e fogo... Os dois odeiam se amar, e se amam por se odiarem, talvez?

      Um abraço,

      Faust

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